quinta-feira, 29 de março de 2012

Manoel de Barros - Trechos do livro Matéria de Poesia

Madrugada esse João
Botou o rio no bolso e saiu correndo...
Pega! Pega!

2.
Muita coisa poderia fazer em favor da poesia:

a - Esfregar pedras na paisagem.

b- Perder a inteligência das coisas para vê-las.
(Colhidas em Rimbaud)

c - Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se.

d - Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos.

e - Perguntar distraído: - O que há de você na água?

f- Não usar colarinho duro. A fala das furnas brenhentas
de Mário-pega-sapo era nua. Por isso as crianças e as putas do
jardim os entendiam.

g - Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos,
teréns de rua e de música, cisco de olho, moscas de pensão...

h - Aprender a capinar com enxada cega.

i - Nos dias de lazer, compor um muro podre para
os caramujos.

j - Deixar os substantivos passarem anos no esterco,
deitados de barriga, até que eles possam carrear
para o poema um gosto de chão - como cabelos
desfeitos no chão - ou como o bule de Braque -
áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro - um
amarelo grosso ouro da terra, carvão de folhas.

l - Jogar pedrinhas nim moscas...



Quem anda no trilho é trem de ferro
Sou água que corre entre pedras:
-liberdade caça jeito

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