terça-feira, 11 de junho de 2013

"Ser feiticeiro da palavra, estudar a alquimia do coração humano..."
Guimarães Rosa

sábado, 18 de maio de 2013

Eu conquisto o universo com palavras.
Desonro a língua materna,
A sintaxe, a gramática,
Os verbos e os nomes,
Violo a virgindade das coisas
E crio uma língua nova
Que esconde o segredo do fogo
E o segredo da água.
Ilumino a nova era
E detenho o tempo nos teus olhos,
Apagando a linha que separa
Este instante da passagem dos anos.

Nizar Qabbani

segunda-feira, 29 de abril de 2013


Ninguém quando ri sabe onde está,
 saberás tu onde estás quando choras?
 
Rainer Maria Rilke

sexta-feira, 26 de abril de 2013

"Eu bem sabia que a nossa visão é um ato
poético do olhar.
Assim aquele dia eu via tarde desaberta
 nas margens do rio.
Como um pássaro desaberto em cima de uma pedra
 na beira do rio.
Depois eu quisera também que minha palavra
fosse desaberta na margem do rio.
Eu queria mesmo que minhas palavras
fizessem parte do chão como lagartos
fazem.
Eu queria que minhas palavras de joelho
no chão pudessem ouvir as origens da terra."

Manoel de Barros

sábado, 13 de abril de 2013

A ponte


Entre instante e instante
entre eu sou e tú és,
a palavra ponte.

Entras em ti mesma
ao entrar nela:
como um anel
o mundo fecha-se.

De uma margem à outra
há sempre um corpo que estende,
um arco íris.

Eu dormirei sob os seus arcos.

Octávio Paz

domingo, 24 de março de 2013

O Hóspede




Muito antes de anoitecer
chega à sua casa aquele que trocou acenos com a escuridão.
Muito antes de amanhecer
ele desperta
e, antes de ir-se, atiça um sonho,
um sonho ressonante de passos:
o escutas medir as distâncias
e jogas pra lá tua alma.

Paul Celan

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Canto VII Audição de Orfeu, poema XIV




Maduro pelos dias, vi-me em ilha,
portanto.
Como conhecer as coisas senão sendo-as?
Como conhecer o mar senão morando-o?
Às coisas Deus um dia nos recuou.
Contemplo as nuvens. Elas me rociam.
Refletem-se em meu sangue: nuvens e aves.
A sombra de meus pés reptam-se serpes.
Quantas selvas escondo! Sou cavalo,
Corro em minhas estepes, corro em mim,
Sinto os meus cascos, ouço o meu relincho,
Despenho-me nas águas, sou manada
De javalis; também sou tigre e mato;
E pássaros, e voo-me e vou perdido,
Pousando em mim, pousando em Deus e o diabo.
Nasço floresta, grasso grandes pestes,
Porquanto,
Jazo em mim mesmo, rejo-me,reflito-me
Sei dos pássaros, sei dos hipopótamos,
Sei de metais, de idades, aconteço-me,
embebo-me na chuva que é do céu,
abraso-me no fogo dos infernos.

Porquanto,
Como conhecer as coisas senão sendo-as?
Abrigo minhas musas, amam sobre.
Aflijo-me por elas, sofro nelas,
Encarno-me em poesia, morro em cruz,
Cravo-me, ressucito-me. Petrus sum.
Sou Ele mas traindo-o, mas em burro,
com esses cascos na terra, e ventas no ar,
cheirando Flora; minhas quatro patro patas
rimam iguais, forradas, alforriadas,
burro de Ramos, levo o dorso
Alguém em flor, Alguém em dor, Alguém.

Contudo,
Burro épico, vertido pra crianças,
Transporto-as à outra margem, sou Cristovão
Colombo, sou columba, Deus espírito
Que desce sobre o início, sou palavra
Antes de mim, eu evo. Ave Maria,
Eva sem culpa, tem de mim piedade,
Pia sacramental de que emerjo ilha,
-Quid petis ab ecclesia Dei?
-Fidem
-Fides, quid tibi proestat?
-Vitam aeternam.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Melhores coisas...

Ando nesse clima de "meu ano não foi tão bom" mas na verdade parando pra conversar com as pessoas percebo que tem muita coisa boa ai e quero deixar registrado:

1 • Curso de fotografia

2 • Ganhei uma sobrinha linda *.*


3 • Conheci muitas pessoas legais, amores pra vida toda.

4 • Aprendi a dirigir

5 • Amadureci e aprendi

6 • Viajei *.*

7 • Pintei o cabelo

8 •  Estampei tecidos *-*

9 • Passei o aniversário com amigos e o natal com a família ♥

10 • Arrumei um emprego

11 • Big Bang Theory *.*

12 • Me apaixonei por mim - me arrumei, maquiei, comprei roupa, sapato, isso tudo pode parecer fútil/bobagem, mas é bom se sentir você mesma!


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sobre 2012

Vi muitas pessoas falando sobre seu ano de 2012, como tinha sido um ano bom e etc, acho bonito poder comemorar um ano de vitória e felicidade.
Meu ano de 2012 foi bem esquisito, não o considerei um ano bom, mas também posso pensar em várias coisas bonitas deste ano, é estranho porque, ele não parece completo, tem partes que parecem que foram ha muito tempo, tem muita mudança e desafio, tem começo de coisas que vão nascer ano que vem e uma ponta de dúvida, digo uma ponta porque dizem que as questões nos movem e na  minha vida isso é claro.
Não posso dizer que me arrependo das minhas decisões, pois elas foram certas, mas talvez tenha faltado isso, exatamente isso que eu bem sei.
Tem também esse sentimento de ainda não ser 100% eu,das coisas que tenho que arrumar e viver, coisas comigo, tratados internos!
Esse ano eu fui muito amada, recebi muito apoio, foram as pessoas, talvez as que eu não esperava, que me fizeram feliz principalmente um amorzinho que vai fazer um ano e adora morder as pessoas.
Maria Eduarda veio para agitar essa família que sabe o tanto que precisa estar unida, mesmo com todo o trabalho...
Devo agradecer as pessoas lindas que entraram na minha vida, essa nova maré me mostra meus pecados, meus erros e acertos, vem me mostrar o quanto as pessoas me influenciam sem eu perceber para o peso, e eu não quero.
23 anos , que magia, mas 365 dias de um livro da minha vida, que eu quero continuar colorindo, as vezes ele fica meio nebuloso, mas também é bonito, eu também preciso da tristeza, das dúvidas e das mudanças.
E aqui, este texto vem pra dizer sobre minha opinião do 'sou feliz', não quero pintar bonito, sou imperfeita até demais, só quero quebrar o vinco, dou risada todos os dias, obrigado Deus, mesmo de mal humor as pessoas se esforçam pelo meu bem e eu pelo delas.

Agora, como só pode, é daqui pra frente!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Poesia Sempre - Hilda Hilst

I

(Andante tranquilo)

Ainda é cedo, Ricardo, para o tempo que dizes
Da velhice. Não que sejas menino. Não o és.
Mas na noite flutuas pela casa tão dissipado em meiguice
Que a mulher vê no homem o menino que é.
Sei do teu riso extremo insinuando.
A ferocidade da tua meninice. E pensas porque te amo
Que esqueci a arena ensolarada de outros dias
O rio coalhado de anzóis, a matança das aves
No sol do meio-dia.
Vê, Ricardo, se foi me dado cantar tua brandura,
É porque aquele que tu foste um dia, sendo feroz
Amou. Talvez por isso é que eu te amo agora.

II

(Poco piu animato)

Que te alegres de mim, Ricardo. Que a clareza do verso
Não te saiba à fatuidade e tola singeleza. Posso, para te celebrar;
Ser tecelã de um dia. E se o verso nasceu enquanto a mão tecia
É porque a cadência do tear trouxe de volta ao peito
Meu mundo amável de reminiscência.

Tive uma rua clara e a vontade gentil de descobrir o mar.
E se o ombro apenas começava um movimento rítmico de asa
Eu era navegante e navegava. Que te alegres de mim.
Entardeci possuída de infância;

III

Sendo tu amor; irmão, comigo te pareces.
Em ti me dessendento e contigo me aplaco.
Esta larga vertente se parece à água
Do teu amor em mim onde um dia feneço
Porque também fenece a flor apaziguada
Essa que não nasceu para ter alimento
Antes para morrer do amor desmemoriada.
E se tudo me dás, num sopro anoiteço.
Eu sempre serei terra. E tomando a semente
Tomo pra mim uma tarefa inteira:
A de guardar um tempo, o tempo que recebe
E livrá-lo depois de um jogo permanente.
Outros te guardarão. Não eu só pretendo
Libertar na alegria o coração e a mente.